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  • 02/05/2024 09:52
Jô Folha - DP - Muñoz observa desolado o local onde antes corria uma cachoeira

Estiagem

Oitenta dias sem chuvas muda cenário no interior de Herval

  • Jô Folha - DP - Muñoz observa desolado o local onde antes corria uma cachoeira

Estiagem castiga pastagens nativas e lavouras e seca fontes de água

Por Luciara Schneid
luciara.schneid@diariopopular.com.br

Lavouras perdidas, campos torrados, animais abaixo do peso, fontes de água secas. Tudo isso sob um calor escaldante de 32 graus. Este é o cenário, após 80 dias sem chuvas, na Fazenda Guarda Nova, localizada no 1º distrito de Herval, próximo à fronteira com o Uruguai, na transição entre a Serra do Sudeste e a região da Campanha. "É uma sensação de impotência", descreve o proprietário, o zootecnista Sérgio Muñoz.

Na propriedade, dedicada à produção de gado de cria, não se vê chuva forte desde o dia 23 de novembro, conta. Segundo ele, toda a gota de chuva na propriedade é registrada. "Foram dois milímetros em dezembro e cinco em janeiro e só", ressalta. Nos últimos três anos, já sob a influência do fenômeno la Niña, a média anual, mesmo que de chuvas irregulares, que ficava entre 1,7 mil a 1,8 mil milímetros caiu para 1,3 mil milímetros por ano. O último episódio de chuva forte ocorreu no mês de julho, com 400 milímetros.

A dimensão do fenômeno pode ser observada a partir do "desaparecimento" de uma sanga que recebe toda a água que desce ao longo de oito quilômetros de serra e deságua no arroio Jaguarão Chico, que por sua vez desemboca no rio Jaguarão. Neste trajeto, uma cascata, um ponto de banho e recreação utilizada por moradores das imediações, secou completamente, perceptível apenas pelas pedras que ficaram expostas. Ao longo do curso, algumas poças resistem e ainda servem à dessedentação dos animais, que aproveitam a sombra das árvores, que margeiam o curso dágua para fugir do calor.

A situação dos campos é tão crítica que até plantas mais resistentes como o gravatá, carqueja e até árvores estão morrendo, diz. "As pastagens deste ano já vinham prejudicadas pela falta de luminosidade na fase de desenvolvimento", ressalta.

Os prejuízos da propriedade ainda são difíceis de serem mensurados, diz Muñoz. Somente na pecuária, ele estima uma perda em torno de R$ 500 mil, se considerar uma média de R$ 500,00 por terneiro, seja pela perda de peso do gado ou terneiros que deixaram de nascer. Com os campos torrados, impossível atender a necessidade média de 40 quilos por dia de pasto por vaca, para manter os cios. Muñoz ainda não registrou perda de animais adultos, mas em dezembro dez terneiros nascidos em novembro morreram por desnutrição. "Antes dos três meses, eles ainda não conseguem comer ração, porque ainda não desenvolveram o rúmen", explica.

Para as ovelhas, a situação é mais tranquila, porque gostam do tempo seco, ressalta. As maiores perdas devem ser registradas no gado de cria, em que ele estima uma perda corporal em torno de 50 quilos por terneiro. "Um animal nascido em setembro/outubro apresenta peso corporal equivalente a um nascido em novembro/dezembro", ressalta.

Na soja, plantada em sistema de parceria na propriedade, a maioria dos 600 hectares resiste, mas com desenvolvimento bem abaixo do esperado. Além disso, 150 hectares deixaram de ser plantados por falta de umidade. As lavouras não podem nem serem usadas para alimentação animal por causa do seguro.

Se a situação não melhorar nos próximos dias, a solução será antecipar a venda dos animais para que não morram de fome, ressalta. "Estamos vivendo de esperança. A cada previsão de chuva, contamos os dias para a sua chegada, mas não chega", lamenta.

Situação semelhante foi vivida na propriedade nos anos 1988/89, lembra Muñoz. "Foram dois anos de seca, que só terminaram em janeiro de 1990", lembra. Mais alguns dias sem chover e a seca deve se igualar e até superar à do final dos anos 80, conclui.

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