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  • 02/05/2024 02:43
Foto: Carlos Queiroz - DP - Nas obras do Sanep, água é a aliada para lidar com o calor

Clima

E esse calorão, hein?!

  • Foto: Carlos Queiroz - DP - Nas obras do Sanep, água é a aliada para lidar com o calor

Para quem trabalha no sol, saída é reforçar hidratação e proteção para lidar com as temperaturas escaldantes da estação

Por Lucas Kurz
lucas.kurz@diariopopular.com.br

Se o clima já é assunto quando está frio ou está calor, quando chove ou quando há seca, as últimas semanas têm dado o que falar nas conversas fiadas de elevador. Então aqui vai mais uma informação para puxar papo: nesta segunda-feira (13) foi registrada a maior temperatura da história de Pelotas para o mês de fevereiro, segundo a Barra Meteorologia: 38,8°C na estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) que fica no campus Capão do Leão. A observação é feita desde 1929. No registro da estação meteorológica da Embrapa, 39,6ºC registrados. Uma outra, particular, marcou 40,9°C. E, embora para a maioria das pessoas lidar com esse clima seja complicado, para quem trabalha diretamente no sol torna-se ainda mais escaldante.

O DP conversou com diversos trabalhadores que não têm saída: precisam enfrentar o calorão pelo ganha-pão. Em uma obra do Sanep, por exemplo, o instalador Roberto Bitencourt diz que a hidratação é a salvação. "Não tem o que fazer, é muito sol. É água, água, água e água." Ele cita que, em anos anteriores, colegas chegaram a passar mal, algo que não aconteceu esse ano. "Não tem jeito. Trabalhar no asfalto, a caloria aumenta. Vai pegar uma ferramenta, a ferramenta tá quente… Mas esse é o serviço, não adianta."

Para minimizar, além de levar bastante água e, sempre que há uma oportunidade, refrescarem-se na sombra, os trabalhadores contam com a solidariedade das vizinhanças. É comum que moradores de casas próximas às obras ofereçám água gelada.

Luciano Sandim diz que os equipamentos de proteção, embora sempre necessários, fazem o calor aumentar ainda mais. Botas, capacete, calças compridas, manga longa… "Não tem o que fazer. Mas se acostuma no dia a dia", explica, contando que está nesta lida há 23 anos. Ele aponta que a empresa fornece protetor solar, mas que a pele já se "acostumou" com a exposição.

O clima como oportunidade
Após perder o emprego, Gilberto Vahl viu no calor uma oportunidade de ganhar dinheiro. Há duas semanas faz gelo em casa, coloca no isopor, enche de garrafas de água mineral e vai para uma sinaleira da avenida Fernando Osório. São cerca de 30 garrafas vendidas por dia, o que gera um lucro suficiente para pagar as contas. O problema mesmo é lidar com o calor. Nesta segunda estava de preto, calça comprida e calçado fechado. "É o jeito, tem que andar arrumado, se não o pessoal fecha os vidros do carro", lamenta o jovem, dizendo que não tem tempo sequer de comer muitas vezes, algo que faz só após o expediente, que inicia no horário forte do calor, quando a clientela é mais receptiva. São intervalos de 30 segundos para agir e, por isso, ele vem buscando inovar: vai pendurar no pescoço uma placa com os valores e QR Code para pagamento em pix.

Gilberto trabalha em um semáforo da Fernando Osório Foto: Carlos Queiroz - DP


Também lidando com o calor, o padeiro Solismar Andrade convive com as altas temperaturas há 30 anos. Apesar disso, diz que não há como acostumar-se com ficar na frente de um forno a 197°C durante cerca de 15 fornadas por dia. O que ajuda são os exaustores. Ele diz que o principal efeito do clima no trabalho acaba sendo na fermentação: em uma receita que iam 700g de fermento no inverno, vão cerca de 200g no verão, conta. Algo que necessita de muita atenção, para não errar a mão no pãozinho de cada dia.


Recorde de temperatura
Meteorologista da Barra Meteorologia, Allef Matos diz que ontem foi o recorde histórico para o mês de fevereiro desde que há registros na cidade, algo iniciado em 1929. Foram 38.8°C na estação do Inmet, 39,6ºC na Embrapa e 40,9°C em uma estação particular no Centro. Ele explica que as regiões sul e campanha sofreram muito com o calor devido a um transporte de ar quente vindo do interior do continente. A configuração de bloqueio atmosférico vem impedindo o deslocamento de sistemas que provocam alívio maior na temperatura através das chuvas, segundo ele.

Mas nesta terça isso deve mudar: uma frente fria vai favorecer o aumento da instabilidade no Estado, trazendo chuva no Rio Grande do Sul. "A terça-feira ainda vai ser um dia quente, não tão quente quanto a segunda-feira, vai ser um dia de mais abafamento", explica. À tarde e à noite deve haver chuva, diminuindo as temperaturas. Para os foliões, porém, as notícias não são das melhores: para o Carnaval pode haver até sensação de friozinho devido a uma massa de ar polar, segundo ele.

E então, como lidar?
Médica dermatologista e diretora médica assistencial da Beneficência Portuguesa, Elisa Hallal diz que a hidratação é o melhor aliado: cerca de dois litros de água por dia, quantia que pode variar conforme cada organismo.

Ela lembra ainda que, no verão, as veias superficiais que levam o sangue ao coração ficam dilatadas, o que acontece bastante em indivíduos com varizes. Por isso a importância de atividade física, mas também com cautela: evitar exposição solar das 10h às 16h, manter alimentação leve e roupas indicadas. Há, inclusive, peças que já vêm com proteção solar. Chapéus e bonés também são boa pedida.

Elisa sugere alimentação com frutas, verduras, legumes e cereais, que ajudam na hidratação corporal. Também sugere que, ao invés de frituras, optar por grelhados é uma saída melhor, com carnes magras, peixes e frutos do mar.

Cuidados no trabalho
O coordenador do curso técnico de Segurança do Trabalho da Escola Estilo, Tainã Ebling, diz que, conforme a área de atividade, empresas que expõem funcionários ao sol precisam seguir um conjunto de normas, com uma ordem de prioridade prevista nas Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho e Emprego. Segundo o especialista, as medidas de prevenção mais utilizadas atualmente no que gere a proteção solar são:

Equipamentos de proteção individual
- Óculos escuros;

- Capacetes com abas largas e/ou total;

- Vestimentas de trabalho com proteção solar e/ou vestimentas com mangas longas;

- Chapéus, bonés e toucas do tipo "Árabe", com proteção para o pescoço;

- Botinas de segurança.

Equipamentos de proteção coletiva
- Uso de barracas do tipo "gazebo", por exemplo;
- Guarda sol;
- Abrigos solares.

Medidas administrativas ou de organização
- Planejamento das atividades de trabalho em horários com menor intensidade solar;

- Pontos com água mineral para hidratação (com temperatura adequada);

- Pontos com fornecimento de protetor solar, antes e durante as atividades de trabalho.


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